O Cotidiano Que Ensina

 Algumas coisas de vida, de tempo de vida, me levam a pensar muito essa semana.

Coisas assim como a perda de alguém que hoje faz parte de um cotidiano acomodado a esse tempo das pessoas a sua volta. A necessidade.

E penso em minha sogra, 92 anos, muito frágil e dolorida, que começa a depender de outras pessoas para fazer o serviço banal de casa para ela. E da sogra de meu filho, dependente que são desde que nasceu o Davi (hoje com 12 anos), pela fragilidade de seus ossos e sua idade, sofreu a segunda queda atingindo o osso da perna e a tirando da labuta diária de cuidar de casa, dos netos, do marido... 

Então pensei em mim.

Ninguém depende desse velho nem mesmo para uma opinião, apesar de usarem de meu nome limpo para alguns interesses e me deixarem as dívidas, que hoje já não tenho possibilidades de arcar. Nada mais me faz útil. Pelo contrário: ainda sou objeto de zombaria por meus hábitos de solidão adquiridos há um tempo e por meus temores e pessimismos. Ou seja, não faria falta porque em nada acrescento, em nada podem contar comigo.

Eu passo meus momentos de preocupação com minha saúde nestes dias. Não parecem se preocupar ou é de seus interesses.

Se perdermos minha sogra - Deus é Pai! - haverá mudanças na vida dos irmãos de meu cunhado, dependente dela, de sua presença, ainda que com seus 65 anos... 

Se não puderem contar com a sogra de meu filho, haverá mudanças de vida tão radicais no seio dessa família que nem sei até aonde poderá chegar.

Eu sou dispensável. Cumpram meu últimos desejo e pronto!

No decorrer da semana que passou, eu notei o quanto fragilizado estou, ao chorar duas vezes diante da tela da TV em filmes que já havia assistido.

A primeira vez foi com o final do "Como Eu Era Antes de Você" e, pela consciência e poder para decidir pelo fim de sua própria vida. 

Antes, revendo a cena do hotel a beira mar, o rosto feliz do moço pedindo para deixar ver a tempestade que açoitava em ventos, relâmpagos e trovões... Era como se esperasse ali seu próprio milagre, numa faísca, onde nada se pode sentir para deixar essa vida.

Lembrei-me de alguém que me contou certa vez ficar no terraço sob tempestades e ver os raios cortarem o céu, por pura desistência de vida. Indignação e decepção.

E eu que tenho grande pavor de tempestades, mas houve um tempo em que me sentia como ela, por causa dela, "corajoso" para enfrentar diversas delas como fiz. Coração dolorido, em decepções, entregas, perdas muitas e desistências.

Trouxe comigo muito dessas desistências a partir do momento que precisei me incluir em minha velha vida de casado, família, para seguir com um pouco de paz. Foi pela minha paz que abdiquei meus sonhos, me refugiei e me tornei só dentro de mim. Foi pelas minhas perdas e vergonhas passadas que desisti das coisas e somei um mal a minha saúde, desgastando mais e me prendendo mais a solidão. Meus erros.

Depois, em "Encontro Marcado", uma história comovente de vida e morte. Ao ter alguém que está aqui para levar você embora dessa vida, te confortar, apoiar e ajudar a ter coragem. 

Eu queria ter essa coragem. alguém ao meu lado que me levasse e me dissesse "não tenhas medo!"

Certo que estou e sou do passado, pelas atitudes das pessoas em relação a mim, o abandono, esquecimento, de meus erros não posso me arrepender e esses não serão mesmo mais perdoados, eu sei.

Mas, se não posso ter e estar com eu quero, que mais fazer em lugares diferentes, festas, viagens. Sonhar o que?

Nem um bom filho de Deus posso me considerar, pela maneira que penso sobre religião. Sou um pecador, Senhor, Vós sabeis!

Rogo por Vossa benevolência e perdão... É só o que tenho.