De certa forma, a vida à minha volta me deixa muito deprimido.
Vejo "evoluir" as pessoas e aumentar o número de violências gratuitas a medida que cresce o número de pessoas, carros, etc.
Os anos passaram para mim. Já reclamo há tempos da falta de valores deixados de lado pelos "SERES" humanos. O que me minha mãe ensinou parece ser crime e precisa ser comentado em voz baixa, por poucas pessoas que deles se lembram e se indignam como eu quando se depara com a falta que faz no dia-a-dia. Corre-se riscos de sermos descobertos e sofrermos assédio daqueles que acham que estamos errados em "respeitar os mais velhos, ser cavalheiro, ter modos, desejar bom dia - boa tarde - boa noite, e outros".
Mas a coisa vai além.
Estamos vivos, temos saúde, cuidamos dos nossos, nos sentimos úteis... Mas até quando?
Me dou conta que já passei dos cinquenta, que já tenho as marcas e avisos de meu corpo para isso e, levando em frente a vida, não nos importamos até que...
Não sou muito de tumultos, não gosto de trânsito carregado e sou emérito crítico ao êxodo que assisto em todo fim de semana, feriadões e carnaval principalmente, em minha região.
Infelizmente, vivo no caminho desse êxodo de verdadeiros "loucos" que trocam tudo por isso, para estar em meio a isso e dizer que foi "curtir", "descansar" na Região dos Lagos.
Mas fico estarrecido ao notar que fica por aqui ainda uma multidão que não era notada há poucos anos. A minha cidade ficava vazia, poucas pessoas na rua, calma geral. Foi assim um dia...
Sábado, passei por experiência que me fez tentar escrever esse post.
Dormia o sono de quem passou toda uma semana desgastante de ir e vir para o trabalho nessa época de carnaval. Já havia me decidido a ficar em casa, companheira despachada junto com parentes e, enfim, pronto a descansar.
Fui acordado pelo toque do telefone e a notícia de meu pai não estar passando bem, ao mesmo tempo que, pela janela, vi o trânsito impedido, a rua em frente a meu prédio tomada, um bloco mais adiante e me tomou o pânico então.
O que fazer? Para chegar a meu pai já seria difícil sem esse impedimento.
Para piorar, ouvi trovões de uma tempestade que se aproximava... O que fazer?
Meu pai tão perto e tão distante, não bastasse o seu íntimo de NÃO QUERER AJUDA de ninguém nessas horas... O que fazer?
O mesmo sentimento de impotência que me leva a revolta por algumas coisas que não consigo mudar mais e, com certeza, a verdadeira impotência pela vida que se vai, a cada dia, a cada hora e me deixa para baixo.
Aí imagino meu pai. São noventa e três anos...
O desânimo que sinto vez por outra, meu pai explica quando não quer mais fazer algo que muito gostava.
Aos 93, com uma cabeça privilegiada, o corpo agora o impede de ser como era há poucos anos (que para ele poucos dias) e ele não aceita. Sempre foi resistente, sempre se orgulhou de ter se cuidado quando jovem, dos exercícios na cama com as pernas antes de se levantar, de ter jogado muito futebol e sempre agradeceu a Deus ter chegado aqui assim.
Posso entender a depressão de meu pai numa luta inglória contra o tempo e a realidade que se mostra a ele em seu corpo.
A maneira de dizer "Não vou me entregar" é não aceitar ajuda. Nem mesmo quando caído num chão de banheiro, sem entender porque, consciente de aquilo não pode ser nada, que não está acontecendo. Ele não acredita...
Por entender plenamente que um dia vai embora, sempre organizado, já me deu instruções várias do que quer, como quer e mostrou documentos, etc.
A cabeça privilegiada não aceita o corpo fraquejar e isso o deixa triste, muito triste em sua vida simplória, dentro de casa, fazendo as mesmas coisas, cumprindo seus "rituais" e horários.
REALIDADE, de ti tenho medo... Mas escrevo.
E, como quando ele me falava e mostrava "Caso venha a faltar", a fuga de lhe dizer "Que nada, meu pai, vamos falar de outra coisa" já perde força em meu pensar.
REALIDADE, se afasta de mim, pô!!!!
Não sei. Nunca pensei REALMENTE em perde-lo.
Já tentei contra a minha vida, já esperei viver pouco, tenho medo da morte, mas meu pai parecia eterno em sua fortaleza de bem, de vida, de conselhos e atitudes, de justiça.
A vida sabe que ainda posso daqui seguir primeiro, claro.
A realidade da vida real choca e transtorna.
Pedimos forças em orações e, sem mais, seguimos.
É o que nos resta. É a vida... Difícil, muito difícil é aceitar.