O stress e o tempo
Voltava do médico ontem a noitinha caminhando e meus pensamentos se misturavam entre preparativos para ir trabalhar daí há pouco e sobre a conversa que acabara de ter com o médico na consulta. O stress, doença moderna que toma conta geral.
Me passava um filme breve sobre a vida, a minha vida. E a pergunta é inevitável: onde vai para tudo isso?
Como sair? Onde arranjar uma saída? Como?
São todas as que faço todos os dias, em meio a sonhos que insisto (e ainda posso) em ter, porque são eles que me levam, me ninam e acalentam.
Acho que devo viver "a crise dos 50", se é que ela exista, mas, creio estar mais atento ao que me rodeia e isto não me tem feito bem.
Sinto falta de ser mais querido, de ter amigos, paixão.
Paixão. Essa ajuda a mover o mundo...
Confesso, tenho feito de boas lembranças, momentos de alegria para mim mesmo. Aqueles de paixão, as loucuras; as boas loucuras da paixão.
Talvez, por ter tido tanto, vivido isso, me vejo tão mal consolado hoje.
E paro para me ver.
E vejo que nada mais tenho. E não poderia ter mesmo.
Ver-me no espelho é o fato mais forte da sintomatologia.
Saber-me deteriorado em função de tanta coisa - saúde, beleza, paz - é notório.
Começo então a sentir o desgosto de tudo, da vida.
Desgosta-me querer ser eu mesmo e não me encontrar. Não ser aceito.
É como então passo a entender o porquê de muitas empresas não contratarem pessoas com minha idade, por exemplo.
A rejeição - pelo menos assim tenho sentido meu mundo - deve ser "a" ou "aquilo" que parece tomar a gente, sem que se perceba.
Fases...
Percebo que tenho estado em planos diferentes dos que me rodeiam, convivem.
Minhas palavras parecem não serem entendidas, minhas atitudes são ignoradas.
O sentimento é claro e acontece.
O espírito
Nessa jornada de vida, em algum tempo passado, alguém um dia me falou que, comigo "andam" uma criança, um índio e um velho, espiritualmente, é claro.
Como já faz tempo, a criança parece ter crescido, porque me abandonou e já não tenho mais os dias de alegria com frequência.
O índio ficou velho e agora, quando "briga", guerreiro que é (ou era), já não é entendido além de estar fraquinho, coitado, pois não ganha mais nada.
O velho? Ah, esse ficou absoluto, chato, ranzinza e deve o motivo maior para tanta rejeição.
Tenho estado assim.
Trabalho à noite, ganho pouco, não tenho a mesma importância, me sinto cansado com os problemas que são muitos (dentes, dores, etc; barriga, cara, falta de aventura, coragem, etc) e as lembranças também.
Lembranças que atormentam, por serem mais que as boas, por serem erros; que me envergonho quando elas me chegam.
Erros que fizeram perder muita coisa, entre elas amigos.
Nego Bom
Tenho saudades.
Entre outras coisas, eu admirava-os.
Foram muitas passagens juntos, muitas farras e muitos risos. Ficaram para trás.
Jorginho, o Nego Bom, foi um deles.
E esse nem sei bem o motivo. Sinto mais por isso.
Para minha família - esposa e filhos - eu não tenho amigos. Nunca os tive.
Porque será?
Não penso e nem sinto assim. Nunca.
Não mais tenho perto de mim qualquer pessoa que divida comigo um bom papo, uma cerveja, as mágoas e as aventuras. Ninguém.
Até o futebol que me era caro, minha religião, deixei de lado. Motivos parecidos com a rejeição me fizeram tomar a decisão.
O meu mundo é bem pequeno agora. Assim eu fiz.
Mundinho
Meu mundo, olhando-o deste ângulo, está bem pequeno e muito do que havia nele está se esvaindo aos poucos.
Fruto da idade, natural, meu sogro está doente e todos sabem que é questão de tempo. Esperamos, mesmo não querendo, pelo sofrimento e dor. Oramos pedindo que não aconteça a nenhum de nós, mas...
Meu pai fará 88 anos.
Ainda tem muita saúde, mas, a perda pode ser eminente e, então, eu não saberia como seguir. Ele é muito em minha vida nesses anos.
Perdi minha mãe no auge de minha vida.
Havia mudado meus rumos, conseguido uma grande melhora profissional e pessoal, conquistado muito. Então, depois de sofrer por longo tempo, ela se foi.
Carrego comigo um sentimento de culpa por estar vivendo muito do que queria e ela presa por sua enfermidade. Abandonada, carente, sozinha (como me sinto agora) consigo mesma.
A pouca atenção que lhe podia dar era fruto de não aceitar, como ela fez, sua doença maldosa que lhe tirou a liberdade e o seu poder em ser bela. Era tudo para ela.
Mamãe se foi por sofrer sozinha em não aceitar ter que necessitar de ajuda para tudo, de uma hora para outra, "como um pesadelo" - assim ela definia - que o derrame (AVC) tirasse dela tudo que sempre foi: livre e independente.
Preciso rezar por ela. Ela nunca nos deixou.
Pausa para chorar um pouco
É. Estou ficando velho mesmo... mas sinto tanto não ter a força dela do nosso lado...
Meu divã obsceno
Eu escrevo sempre como se aqui fosse meu divã.
às vezes penso escrever para determinado leitor; penso em perdoar e ser perdoado, penso em ser este o legado que tenho a deixar.
Escrevo e nem sempre, ou melhor, em poucas vezes sei que estou sendo lido, visto ou atendido.
Apesar de, em meu inconsciente, esperar ver por aqui alguma coisa nova, me abro e ao meu coração sempre.
Compreender a vida, entender as coisa dela, aprender... nada disso.
Minha vida, meus nós, minha passagem.
Meus horrores, meus pensamentos, minhas lembranças.
Meu eu. Ser... somente ser.
Há tanto que gostaria de contar e não posso.
Algumas por precaução, outras por serem "impróprias" (as boas, é claro) e muitas por não saber como.
Como explicar a paixão louca em minha vida?
Não sei como começar e vou me perder no emaranhado de aventuras e grandes decepções, nos melhores e piores momentos de um homem, nas dúvidas e etc. Enfim, não sei.
E já tentei muitas vezes.
As boas, aventuras, paixão nas loucuras da entrega, do sexo, eu talvez faça em um outro blog, com nomes fictícios e tudo mais.
Será que consigo sem lembrar as ruins que passei para tê-las? A paz e a guerra...
Eremita, ermitão e a mor
Em minha personalidade se esconde uma tendência a ermitão. Eu gosto de ficar só. Preciso estar comigo mesmo, sem nada para interferir, ninguém por perto.
Nesses anos atuais, depois de tanto perder, me tranquei, me isolei de tudo que pude.
Mudei meu mundo para menor, mais rígido.
Fechei portas abertas - outras se fecharam - cadeados; joguei fora chaves e fixei minha bússola.
Depois sentei e esperei.
Me vejo pequeno agora. Frágil em desmazelo e nuances que a vida insiste em dar. E, diante do tormento das lembranças me faço saber que preciso lutar.
A palavra mágica que um dia funcionou - ESQUECE!!! - parece não chegar.
Meus sonhos estão ficando cada vez menores, sem rumos, absortos. Falo daqueles que me embalam, acalmam.
Os reais, aqueles que espero alcançar, ainda são presentes. Esses começam com uma Mega Sena gorda...
O ermitão vai indo em meio a tanta gente... eu era feliz e não sabia.
(Escritas em rascunhos, no trabalho, pelo silêncio da madrugada, em tempos de poucas amostras)