A vida nos oferece situações de história em que podemos nos ater em diferentes direções. Aquelas que geralmente dizemos "isso dá um livro".
Nós mesmo, vez por outra, nos damos conta de coisas que passamos ao longo de nosso tempo ou temos vários e vários exemplos de vivências extraordinárias com diversas pessoas.
Jornais publicam o cotidiano, histórias escabrosas, violentas com ou sem final feliz.
Meu pai, conta hoje 93 anos por aqui, viveu muitas épocas diferentes, viu nascer os carros, os rádios a pilha, as guerras, o mundo evoluir tanto que já não reuniu forças, interesse ou vontade em acompanhar... E quantas histórias, quantos exemplos. A dele própria que se orgulha tanto em relembrar para dizer que chegou até aqui saindo do meio de uma plantação de algodão de onde minha vó tecia as roupas que usava e da mandioca que lhes dava o sustento.
Começo assim para falar de uma nova para mim, de meu convívio atual, pequeno, restrito mundo.
E devo confessar que estou tentando descrever a profusão de informações que ainda não me deixou dormir neste dia, daquilo que fiquei sabendo, que ouvi num relato amplo e aberto, sem pudor, acompanhadas de duas garrafas de vinho e um queijinho para ajudar.
Estou falando de uma menina.
Mas, quando da primeira vez que comigo conversou, "do nada" confessou ser bissexual com maiores tendências agora que havia se separado.
Intrigado e cuidadoso, afinal trabalhamos no mesmo horário, carente e curioso, admirador que sou da beleza e do tema que considero a evolução da mulher nos anos atuais, só voltamos a conversar de novo ontem, depois de alguns meses da primeira vez.
Ela, no dia a dia, me chama de senhor e faz questão disso.
Quando sarcasticamente a chamo de senhora, ela diz adora isso, ser chamada assim...
Mantendo a minha linha de comportamento, até mesmo por não ver nenhum tipo de brecha que facilitasse isso, não tentei me aproveitar ou aventurar uma possível "cantada", carente e esperançoso que até me preparei psicologicamente falando, caso acontecesse.
Ela conversa comigo como se dois homens fôssemos, mas suas experiências contadas foram vividas naquele corpo lindo, bem moldado e cuidado de uma bela mulher.
Suas aventuras, depravações, seu casamento e suas dificuldades normais de pouca idade - casou-se aos 14 e foi mãe aos 15 - até a sua não aceitação da mãe, das coisas e da forma que esta vive a vida...
Mas aos 25 anos, linda, pratica a dança do ventre por amor a coisa, cuida da filha, de sua casa (que diz com orgulho ainda vazia de móveis, etc) faz academia e ignora os homens, incluindo seu marido e cúmplice de tantas noites a três por ela arranjada.
Ela se diz muito má, que atrai sem querer mas acontece, ela sabe, e então desmancha as opções e decepciona seus apaixonados concorrentes. Simples assim.
Não deixo clara as aventuras que contou mas seriam dignas de filme pornô bem sujo, digamos assim.
De seus prazeres vividos, suas dores e dúvidas.
Incomodado mas me mantendo na mesma linha desde o primeiro gole do vinho, pois tenho certeza que, depois do tudo que me expôs sobre ela mesma, este velhinho senhor aqui não quer mesmo entrar na estatística de "mais um que se fudeu". Até porque, preciso e devo saber e manter o meu limite de ridículo, meu senso. Além de não querer estragar uma "amizade" de "confiança" que consegui.
Não posso deixar escondido que fui com esperança, que me preparei, como já escrevi antes, mas há algo ainda no ar que parece um jogo, que precisa ser bem jogado estrategicamente, com desafios a percepção e num ambiente que restringe.
Ainda não sei bem o que escrevo e posso estar me alongando mas creio que depois de tantas coisas, paixões extremas, tenho hoje sintomas misturados de segurança, apaixonado pela história, pelo SER que ali, com sua pouca idade em relação a mim, viveu experiências que muitas outras pessoas gostariam ou sonham viver. Assume uma condição que traz com ela desde nova e tem uma mente aberta, evoluída. Não tem religião mas segue uma tendência religiosa.
Tem planos e tem o que pode usar do hoje. Vive.
Já mesmo aqui escrevi sobre isso em outros post's, do porque não se conversa abertamente entre homens e mulheres sobre intimidades, defeitos, gostos, experiências sem que usem o tal do pudor e da decência como desculpa para uma coisa tão natural.
Ontem, ou melhor, hoje na madrugada, duas garrafas de vinho foram testemunhas de uma página de vida minha que há muito esperava. A franca conversa detalhada até, sem pudor, "de homem para homem" como se fosse, marcaram para mim.
Ela é dona de um sorriso aberto, tem uma segurança invejada, um comportamento bem normal que a mistura por aí ou no trabalho sem despertar nem uma centelha da verdadeira mulher e sua grande, enorme bagagem de vida escondida em beleza e pouca idade.
Já a admirava desde a primeira pequena conversa.
Me senti privilegiado em dividir sua história e alguns copos de vinho misturados com segredos que, segundo ela mesma, só o marido sabe...
Feliz, seguro e admirado escrevo assim sem um rumo certo, sem saber explicar.
Meus desejos e minha carência alinhados com a minha idade podem estar supervalorizando algo comum, mas para mim foi muito bom. Faz parte de minha história, meu histórico de vida.
Dois vinhos diferentes em uma só garrafa que a vida mostra como degustar.