Copa do mundo 2022.
Dou-me conta que será a décima quinta, se assim Deus me permitir, em minha vida.
A primeira -1966 - no quintal escuro da casa na Trindade em São Gonçalo em meio aos amigos de meu irmãos e bebidas ouvindo no rádio que tinha o som bem "áspero" e flutuava como as ondas que são a base da transmissão radiofônica. Eu considero pelas lembranças de estar em meio a eles mas sem entender muito bem.
Aquela Copa foi de Euzébio e cia portuguesa apesar do título ficar na Inglaterra. O Brasil, além de ter Pelé machucado, foi um desastre na preparação e disputa. Um grande fracasso do campeão anterior, em 1962.
Em 66, eu tinha 9 anos.
1970
Então houve uma evolução tecnológica, The Beatles, Vitrolas portáteis, Festivais de San Remo, Rádios AM tocando sucessos mundiais, TVs e o homem na lua... A Copa de 1970 foi na primeira TV colorida de minha família.
Meu irmão, metódico e cuidadoso, antes de cada jogo ajustava a posição da antena que ficava sobre o telhado (ou em cima de uma perna de três "plantada" no fundo do quintal?), cobria a cortina da sala com um cobertor e cada buraquinho onde houvesse luz do sol. E, na euforia de cada partida vencida com futebol inesquecível e incomparável, a certeza de sermos campeões mundiais... Era minha primeira vez, minha sensação em ser brasileiro, entender que fomos melhores do mundo, amor ao futebol e ao país. Orgulho mesmo.
Em 70, com meus 13 anos, havia calçado minhas primeiras chuteiras e fui parar no Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, na categoria dente-de-leite, para espanto da família, descrença dos colegas do lugar e muita felicidade de meu pai.
Campo do Fluminense, com Tiquinho, Luizinho Rangel e Ronaldo Torres. |
1974
Em 1974, o carrossel holandês encantou e surpreendeu o mundo.
Surgira uma nova era, com tudo diferente em matéria de jogar futebol nunca visto antes. Johan Cruijff e cia encantavam o mundo todo mas, a história mudou todo aquele encantamento quando a Alemanha sagrou-se campeã para frustração e indignação de todos, menos ou até dos próprios alemães.
A laranja mecânica |
Johan Cruijff |
1978
Jorginho é orgulho silvajardinense e estará em nossos corações sempre... |
Jorginho com meu filho, em Silva Jardim. |
Zico, Sócrates, Éder, Falcão, Júnior e tantos outros craques jogavam por música, como costumávamos dizer. Eles dominavam o espectador com a magia de seu futebol.
A meu ver, perdemos aquele fatídico jogo para o Paolo Rossi por culpa do grande Telê, que por teimosia manteve titulares Valdir Peres, Leandro e Luizinho, em detrimento de qualquer outro goleiro, Nelinho e seu chute quase indefensável e Edinho, que era líder nato e não deixaria aquele time se abater em campo como aconteceu. Todos os onze que jogaram não tinham essa face que Edinho possuía.
Faltou liderança dentro e fora de campo, porque Telê limitou-se a ficar como mero espectador, mascando seu palito de fósforo no banco a beira do campo sentado como uma múmia.
Eu trabalhava em turno e naquele dia estava de 14 as 22h. No Brasil, dias de jogos na Copa era feriado ou meio período para comércios, bancos, etc... Na verdade era como um feriado e a festa rolava solta em todo país. Um evento muito comemorado em todos os cantos.
Aquele time levava a certeza de glória da torcida. A confiança era grande com ruas enfeitadas e muitos fogos, festejos que duravam até o dia seguinte. Era bom demais ver nosso futebol brilhante como em 1970!
Nós havíamos passado pela Argentina temível de Maradona e com um pequeno show de bola que terminou com um golaço de Júnior, um de meus maiores ídolos.
Mas aí veio a Itália... Tristes lembranças inacreditáveis!!!!
Estávamos trabalhando e ouvindo a euforia do lado de fora da fábrica. Fogos e muitos balões, festas e gritarias que acompanhávamos pelo rádio de pilhas. Cada um com o seu em seu setor ou pendurado no capacete como meu amigo Vílson, fanático torcedor como eu. A fábrica parecia estar parada durante o jogo. Só Vílson ía ao laboratório e pouco conversávamos pela tensão do jogo.
Do lado de fora a tensão ganhou força e foi calando o barulho de euforia que ouvíamos... Era pressentimento ruim ou expectativa de virada como na estreia contra a URSS?
No rádio, os locutores e comentaristas desabaram em choro incontido, derrubando a transmissão e me levando até um tanque de produtos na área fabril onde me lembro de chorar como criança, com vergonha, escondido de meus colegas.
O resto de nosso turno foi estranho, sem ninguém andando pelas áreas de produção, como se a fábrica estivesse parada. Era um luto, uma morte que atingira a todos nós, Brasil afora.
A Copa de 82 foi desse cara:
Falecido há pouco tempo, Paolo Rossi conseguiu mais que um feito em marcar três gols naquela partida.
Levou o título daquela Copa no final e marcou a história no coração de um povo como trágico dia do Sarria, estádio que nem mais existe na Espanha.
No coração de cada brasileiro que viveu aquela fatídica e incompreensível derrota ficou marcado.
Zico, grande ídolo, grande homem... Nos olhos eu vejo uma tristeza por merecer e não ter sido campeão mundial. |