A partir de meus temores, que ora lembrei-me em pensamento fugaz, tenho estado tão frustrado e depressivo que nem coragem encontro para escrever. Só penso, estruturo textos em minha mente, analiso os fatos e acontecimentos que acompanho no rádio, na TV, nas sociais... E foram tantos com tantos assuntos.
Penso que as sujeiras políticas no absurdo dos maiores e menores entendedores afetaram tudo a minha volta, me atingiram em cheio, me tiraram o chão de uma vida pacata e simples, previsível, de quem já não muito espera fazer a não ser conseguir chegar até onde o Criador permita.
A razão de sentar-me aqui e estar escrevendo hoje, agora, foi tomar coragem para falar de minha rotina e de alguma coisa que me era cara tanto tempo que percebi o quanto faz falta...
"_Solidão, está nos faltando alguma coisa!"
Foram oito anos trabalhando sozinho, à noite como quase sempre.
Nesses últimos oito anos, uma condição de vida que me completava estar ali, ter aquele tempo.
Não me era o salário tão importante quanto ter aquela posição, ocupar aquele espaço de minha vida e fazer dele uma bandeira, um escudo.
Sempre tive um trunfo na manga que era meu velho e querido pai.
Quando as coisas não me corriam bem, quando os perigos me rondavam em termos de crises e empregos, eu tinha meu porto seguro ao lado dele. Mas, ao perde-lo para a vida (sim, ele morreu porque queria viver) me dei conta do quanto estaria vulnerável dali em diante e tremi.
Voltando no tempo, confirmei agora que sempre estive com a solidão em cumplicidade desde meu primeiro emprego, em turno mas sozinho no laboratório e incomodado quando alguém ali chegava.
Depois, desafiado em desvendar a cromatografia, passava horas e dias no trabalho solitário e lembro que as maiores evoluções e descobertas sempre foram conseguidas depois do horário normal ou nos fins de semanas, feriados... Minha aliada me ligava, me ajudava, dividia comigo meus troféus.
Ela sempre esteve comigo, esta é a razão para estar aqui agora escrevendo.
Eu havia voltado para a casa que tinha deixado também por oito anos e a solidão, aliada que sempre foi, me tornou forte o suficiente, por circunstâncias, para seguir... Então, nos tiraram parte importante dessa nossa convivência: o trabalho.
Ali nós conversávamos, lembrávamos, até brigávamos mas estávamos juntos, cúmplices, aliados. Eram eu e ela, dia e noite, semana inteira... Que maldade fizeram!!!!!
A minha rotina agora é até vergonhosa de relatar.
Depois de levantar-me e arrumar quarto sento para tentar empregos na net, nos contatos, e vejo cada dia mais que as chances estão quase nulas para um velho "solitário" de alma ferida, ferida escondida e viva num passado recente.
Ela está comigo, a velha amiga solidão. Mas fica exigente, assim como eu, e vê as forças que tínhamos e tirávamos juntos para enfrentar quase tudo se esvaindo, nos separando, nos tornando cada vez mais calados. Quase já não mais conversamos e nos entendemos.
Lá dentro, bem lá no fundo, com tanto que perdi nos últimos tempos, estou frágil, machucado e dolorido. A minha amiga e companheira só tem visto meu pranto...
