Em alguns posts já mencionei a minha "mania" de rádio, de ouvir rádio desde a minha juventude. Principalmente programas esportivos.
A coisa é mais ou menos como uma companhia em casa, no trabalho ou onde possa.
Os programas da Rádio Globo como Panorama Esportivo que vai ao ar de segunda a sexta apartir das 22h é im exemplo por começar junto com a minha jornada de trabalho.
Há muitos anos, mudava de uma estação para outra conforme o horário dos programas e ouvia a Nacional, a Globo e a Tupi. Sou do tempo do Valdir Amaral, Ruy Porto, Jorge Cury e tantos outros como o grande João Saldanha, meu ícone maior em comentarista e do Doalcei Benedito Bueno de Camargo o maior narrador.
Hoje, o "Velho Apolo" Washington Rodrigues e o "Trepidante" Gilson Ricardo já não estão mais garotões e o "Garotinho José Carlos Araújo quase beira a terceira idade.
José Cabral, o "Moço da Maricota", nunca saiu de minha memória quando conseguiu fazer uma hora de programa na Tupi, no dia que havia morrido seu colega de trabalho cujo nome hoje batiza a cabine da rádio no Maracanã. No fim do programa, desabou em choro dolorido, tentando se despedir dos ouvintes.
Agora, vivi mais uma vez esse tipo de perda, consternado pela falta do Luiz Mendes.
O "Tchê", que tinha o dom da palavra fácil, fica na memória de todos nós viciados em ser ouvintes.
Sua história é exemplo para muita gente.
Desbravador de tempos áureos, um dos fundadores da Rádio Globo, 71 anos de profissionalismo.
Queria ver a sua 17ª Copa do Mundo e esta no Brasil. Na de 50 era o narrador que não acreditava que a bola do uruguaio havia entrado no gol do Brasil gerando o maior desatre do futebol brasileiro que calou os mais de 200 mil torcedores no Maraca. Um desses era meu pai, hoje com 91 anos.
Perdi um companheiro.
Um dos que ouvia sempre a falar sobre o futebol, minha paixão que era sua também.
À noite, quando desci do ônibus na porta do trabalho, uma senhora me abordou.
Chorava como uma criança perdida dos pais, desesperada com a situação que se encontrava.
Todos os dias, madrugada em frente ao HSE, vejo carros de várias prefeituras do Estado deixarem ali várias pessoas que veem em busca de auxílio para sua enfermidade.
São pessoas humildes, em sua maioria de idade avançada.
A senhora estava com um cartão de passe para ônibus na cidade nã mão, explicando que ali estava desde cedo, que sua cirurgia estava marcada para os próximos dias e que precisava voltar para casa mas só havia conseguido arrecadar R$9,10 até aquele momento.
Minha mão estava no bolso e a retirei com a primeira nota que veio.
Ela não acreditou quando viu os R$20 que a levariam de volta para casa e quis me dar troco do que havia juntado ao preço de sua passagem para Teresópolis de van.
Pedi que fosse para casa e quis saber meu nome.
Segui para o trabalho ouvindo ela repetir Altair por algumas vezes.
Sinceramente, nessas horas o que me chega é um misto de revolta e dó.
Dó desse povo largado ao bel prazer dos governantes e políticos que gastam rios, oceanos de dinheiro em obras faraônicas ou invenções famigeradas como a destruição do que funciona há anos como a perimetral em nome da "beleza da cidade" para os turistas.
Gênios.
Do mal e da sabedoria própria, usurpadores que são.
Sinceramente, a revolta é maior que a dó em ver esse povo sofrer a dor dos mais fracos, politicamente pobres pela cultura doce e pura do interior e a "ignorância" gerada por esta sobre seu poder descrito na carta magna, a Constituição.
Vou continuar sendo contrário a essas babaquices de grandeza como a Cidade Maravilhosa que quebra e refaz um Maracanã duas vezes, que quer Copa do Mundo e Olimpíadas num lugar que não existe recursos de Saúde e Educação.
Um País pobre por orgulho e mania de grandeza tocado por um milhão de corruptos e aproveitadores sujos que se dizem políticos, "representantes do povo".
Ainda sinto muito também quando da fusão desse Estado, antiga Guanabara, com o que nasci, o Estado do Rio de Janeiro. Niterói era nossa capital e já foi citada em qualidade de vida.
Acho que estaríamos bem melhores sem essa corja centralizadora de poder.
Os ladrões seriam menos e mais brandos, talvez.
Nunca tive orgulho da Cidade Maravilhosa.
Nunca gostei de ser chamado de carioca.
De uma revolta até outra, não iria parar de escrever.
E preciso assumir a minha parcela de culpa, assim como a senhora que pude ajudar, espero, em nada mais fazer contra tanta baderna e descaso, tantos sonhos e contradições.
A mais nova posso dizer daqui de casa mesmo: Num Estado com "toda essa estrutura" que noticiam todos os dias nas TVs, um hospital faz nesse momento o processo para a ACREDITAÇÃO e ali mesmo teremos uma sala de cirurgia com vídeo-conferência ligado a um hospital de Boston.
É o retrato do País ou sua magnânima força destrutiva, a distribuição de verbas e poder?
Lembrai-vos: "O PODER EMANA DO POVO"