(Escrevi ontem, pensando em meu aniversário, cansado do trabalho e com o movimento das pessoas no carnaval a minha volta...)
Eu conheci uma pessoa nos anos bons de minha vida.
Certo que aqueles eram os melhores dias profissionalmente e
pessoalmente falando.
Vivia meu auge.
Meu primeiro carro zero, morando bem por
conta de meu pai que exigiu a minha presença após a morte de sua companheira de
33 anos e o reconhecimento profissional chegaram juntos com a estabilidade no
casamento.
E era justamente o casamento meu ponto fraco.
Minado pela falta de paixão, buscava algo mais por aí.
Ao meu lado, depois de algumas sagas imprevisíveis, surgiu
aquela moça.
Em pouco tempo mostrou o que eu era. Em pouco tempo me
ensinou muitas coisas da vida e do sexo. Principalmente do sexo.
Me escolheu, me mostrou caminhos, me disse quem era e como
era, tentou me afastar... Já era tarde. A paixão tomava conta de mim e de tudo
que eu era.
A vida passou de segura a dependente daquela moça... E foi
pouco o tempo também.
Dominado, fazia tudo para obter a liberdade de poder viver
mais e mais. Assim foi.
E começaram as perdas.
E vieram as loucuras os pecados, as faltas... A paixão
seguia e me tornava cada vez mais
dependente.
Nasceu nesse meio uma criança. Menina que eu não tinha e
queria muito.
Seguiram-se perdas e uns poucos ganhos que aprendi com a
revolta e com tudo aquilo que ela me fez enxergar do mundo simples e muito
gostoso que só ela sabe escolher.
As lembranças são muitas. As verdades são doloridas.
As perdas nunca mais serão recuperadas.
A volta por cima foi a custa de sacrifícios pessoais que
atormentam e doem como ainda dói a saudade...
Viver assim, seguir assim. Um passo a frente pode significar
novas perdas, muitas dores, mágoas.
É difícil quando ainda se tem vontade de viver, de ser livre
quanto fui por algum tempo.
Amenizava as faltas a liberdade conseguida.
Ainda peso como preço alto o que pago por tantos erros,
tanta entrega, tanta paixão.
Vivi, sei. Sobrevivi. Mas acabo vendo a vida de uma maneira absurda e culpo o
isolamento que me impus fazer nesses anos.
As últimas vezes que
alguém se apaixonou por mim eu não acreditei e não deixei acontecer. Foram poucas, fazem anos, mas vi meu coração fechado,
protegido por algo que eu nem sei explicar...
Agora há pouco tempo senti alguma coisa assim como uma
pequena abertura, como se eu pudesse ter de novo esse gostinho bom de saliva na
boca, de carícias, de bons momentos.
Algo porém impede que eu seja corajoso o bastante para não
ser verdadeiro, que não me deixa aventurar a não ser que esteja seguro
sobretudo e de tudo.
Tentei.
Admito que sonhei em poder sonhar outra vez com bons
momentos que ficam para sempre. Mas o universo conspirou dessa vez contra e,
diante de mais uma derrota em planos, a sensação de fraqueza para ir em frente
toma conta, destrói a esperança, vai colocando longe a chance de me sentir de
novo vivo...
(Sigo daqui agora...)
Eu continuei escrevendo em minha cabeça depois e fui dormir um pouquinho.
Juntando lembranças, sabores, desilusões, as marcas de cicratrizes em meu coração foram tantas que parecem ter se juntado endurecendo o dito cujo...
Posso garantir que sofri um bocado e fiquei temeroso por meus dias depois de tudo.
As ameaças que dizem ter existido, as que seguiram pelos meus caminhos errôneos e a que vivi na real me tornaram assim.
Resolvi parar tudo que mais gostava de fazer e me recolher, me guardar, retroceder...Quase anti-social.
Vi anos se passarem e as lembranças mais fortes atormentarem sempre.
Mas nada posso garantir ter aprendido, já que considero a paixão o óleo da sobrevivência, a fonte da juventude eterna (quem viveu pode me dar razão) e não deixo de tentar viver isso de novo, de buscar saber que ainda estou vivo de vez em quando.
Aliada da paixão, a liberdade se faz presente sempre.
A tão desejada liberdade que sai tão cara de conseguir quanto de entender. Você é livre e quer se prender. Daí é preso e quer ser livre de novo. Ou seria a vontade eterna do homem em mudar sempre, experimentar?
Poderia escrever por horas divagando sobre isso, sobre mim, sobre as minhas dores mas não devo fazer. Cada dor diferente tem uma experiência diferente para contar. E fazer-me explicar é ainda mais dolorido... Rsrsrsr
Mas, para encerrar, posso citar a versão de "Porque?" que diz respeito a escolha da pessoa com quem a gente tem alguma coisa na vida? Alguém aí sabe dizer se é algo parecido ou diferente do acaso, do destino ou da sorte em ter alguém, viver alguém, paixão, momentos?
Os dias teem sido difíceis para mim. Tenho visto a vida pelo fim dos tempos nas figuras de meu pai e meu sogro amigo e, sem respostas, entendo que a vida passa por mim e eu não a acompanho mais. Foi assim que descobri a vida aos 40 anos, "aloprei", saí por aí sem medo de ser feliz e parei num sonho que pensava não existir até perder muita coisa e voltar no tempo e no espaço.
Não sei bem porque mas o meu maior medo hoje é magoar alguém por saber a dor que carrega.
Não sei explicar a paixão mas sei que ela vive para sempre mesmo depois de morta.
Você a leva consigo quer queira ou não. É como se a pessoa que você viveu aqueles momentos de glória em sua vida, mesmo viva ou morta, fosse parte de você em suas lembranças. Você pode dizer que o passado "já foi e não existe mais" mas sabe que não é verdade. Lá no fundo você sabe.
E fazendo 5.5 hoje, sei que lembro dizer que levarei a minha paixão comigo para o túmulo (ou seriam para as cinzas porque desejo ser cremado?) assim como algumas contas que fazia ao longo desses anos... A criança vai fazer 15 anos.
Quinze anos...
São 8 pelo menos sem saber nada sobre ela ou a mãe.
São 6 por aqui, "preso" e seguindo o que posso, o que consigo sonhar para ir em frente.
E ainda descubro que no velho coração, marcado, cicatrizado, ainda resta um pedacinho que deseja, que quer, viver o quanto pode...