É de consideração que eu tenha medo de morrer?
Quem me responde? Meu cantinho só me recebe e me deixa marcar seu espaço com letras e figuras, lágrimas e sorrisos...
Eu queria escrever sobre mim, sobre minha vida, contar a minha história como legado. Quem sabe alguém um dia se interessasse em ler e soubesse de minha existência abençoada por Deus em muitas coisas que nem mesmo eu acreditava poder ter tido.
Amores e desejos de mulheres lindas, cada uma com sua forma e seu jeito, marcantes.
Elas foram poucas mas suficientes para me dar prazeres e dores imensos... Como contar isso???
Eu tive pais maravilhosos no que tange a meu respeito, amor e admiração.
Tiveram seus defeitos e erros mas eram dignos e amigos.
Morreram, por circunstâncias de minha parte na vida, zangados comigo... No fundo, eu não aceitava que eles se entregassem a morte, que a doença os vencessem e os tirassem de mim.
Não foi ontem que apareceu o primeiro rádio transistorizado???
O tal do aparelho que hoje te permite falar e ver a pessoa do outro lado do mundo em tempo real era ficção de quadrinhos em minha adolescência... Chamam de Smartphone o que não me lembro de como chamavam nas histórias de quadrinhos.
Na arquibancada do velho Maracanã lotado em sua maioria de jogos, eu via perplexo a bola atravessar o campo de lateral a lateral, pelo alto lançada com precisão, morrer no peito e deitar na grama com a habilidade dos caras que vestiam a camisa de qualquer time e o aplauso geral seguia a jogada. Como era bonito!!! De arrepiar!!!
Essas coisinhas de brincos, corpos sujos de tatuagens, cabelos sem trato algum como um bicho, chuteiras coloridas e, principalmente, muito dinheiro no bolso não caberiam naquele futebol brilhante e respeitado que vi desfilar... Eram outros tempos. Melhores em valores de vida e igualdades sociais.
Me apontem qual dos grandes craques que desfilam em nossas memórias estão ricos?
Qual tem na conta de toda carreira o que os pseudos deuses de hoje tem por dia de seus salários?
Estou velho e rabugento... Mas é porque vi a beleza nobre do nosso futebol essência da geral, da arquibancada e muitas vezes da beira de campos na várzea.
O evento da internet me trouxe alegrias como poder ver e ouvir músicas de muitos anos bons, históricos, sem comparação com o que se vê e ouve por aí agora.
São mesmices cantadas por vários mas que não se consegue distinguir quem ou aberrações que ficam famosas e ricas da noite para o dia... A internet também faz isso, para meu desespero.
Não sei mais.
Estou velho, a barriga cresceu e incomoda muito.
Não tenho beijado a boa de ninguém há anos e vejo essa chance se esgotar a cada dia que passa.
Acostumado a solidão companheira, sou obrigado a abrir mão de um desejo antigo de sair do Estado, morar sozinho, longe de todos os meus... Afinal, carrego um sentimento de haver falhado com eles, comigo mesmo e por razões óbvias, a vergonha do que me fiz transformar.
Existe uma menina que Deus de alguma forma me deu o prazer de ouvir me chamar de papai.
Existiu uma razão para que eu abrisse mão aos três aninhos dela que tinha a cabeça confusa querendo entender porque "dois pai?"
Eu não existo para a moça bonita e inteligente de 21 anos atuais...
Tenho motivos para escrever as dores e as lembranças... Mas são tantas.
Meu legado é só meu ou divido com mais alguém?
Acho que deixei de existir para muita gente que é parte de mim, de minha vida.
Me sinto triste por isso. Me sinto triste por tanta coisa.
Quanto tempo ainda me resta?
Como será o meu fim?
Tenho medo... Sinto saudades!!!
