Era madrugada de 03 de abril, 04:15h.
Fomos acordados com a campainha e a voz de meu irmão, que havia feito aniversário no dia anterior e com o qual jantei em sua casa. Ele gritava pelo meu nome em desespero.
A Leila trazia na barriga o primeiro filho e já tinha uma gravidez não muito boa, instável por problemas congênitos revelados somente após gerar o segundo.
Ao abrir o portão, meu irmão chorando desesperado, sua família junto ao carro de um vizinho que o levou até a minha casa, só sabia dizer "a Getec explodiu! a Getec explodiu!".
Ele já havia trabalhado lá e sabia o que estava falando além de morar bem mais próximo que eu a dita fábrica.
Como trabalhava lá havia 2 anos, o que veio em minha cabeça foram meus colegas de turno.
Era o meu turno que estava naquele horário e eu, por estar tirando férias de outro colega, trabalhava sem folga e por isso mesmo não coincidia mais o meu horário.
Troquei a minha roupa em meio ao nervosismo geral a minha volta, entrei meu carro e fui para lá.
A polícia já havia isolado a área a um quarteirão e mesmo vestido com o uniforme de serviço, capacete na mão, não me foi permitido passar para chegar mais perto da fábrica. Eu queria saber de meus colegas, queria ver o que aconteceu.
Encontrei Gaspar, chefe de turno experiente que também pensou como eu e, de uniforme, foi para lá no intuito de ajudar em alguma coisa. Ele me acalmou e ficamos juntos até que apareceu um dos que estiveram naquele inferno há pouco.
Ele não conseguia definir nada, só dizia que foi o reator e que saiu antes de acontecer, por ordem do chefe de turno, que tentava junto com o operador da área não deixar que acontecesse o pior. Foi em vão.
Depois, a cada ambulância que saía, nossa aflição em saber quem estava e como estava.
Queríamos mais. Conseguimos passar pelos guardas e chegamos até um ponto mais próximo de onde podíamos ver ainda as labaredas bem altas, na cor azul e um cenário de devastação total. Os bombeiros do lado de fora da fábrica.
Por volta de 08h avistamos o Vilson, que era o mais antigo dos que estavam lá.
Fiquei grato por ele estar bem e soubemos das perdas do Manoel, operador que tirava férias de outro colega e do Evaldo, chefe de turno interino. Este, depois de evacuar todos que estavam na fábrica ao pressentir o perigo, ainda ficou sozinho sobre o dito cujo reator e mandou que o Manoel saísse dali. Não houve tempo.
Evaldo, um cara brincalhão, sempre de bom humor e excelente camarada, mostrou para mim um valor que poucos homens tem: coragem. A coragem de saber que vai morrer e não fugir.
Consciente, salvou os seus comandados e assumiu a responsabilidade do que não tinha culpa, ficando até as últimas consequências. E estas não foram boas para ele.
Sobre o reator de 2500m3, carregado com Furfural e em reação com Hidrogênio a 600lbs ele tentava com uma mangueira de vapor em punho, explodiu junto quando a pressão foi além das 1000lbs, resultado da reação em cadeia sem controle e das válvulas de segurança e resfriamento estarem enperradas pelo produto, que não era de nossa rotina.
Dois dias depois, andando pela fábrica, encontrávamos vestígios de nossos amigos.
A metade do reator entrou pelo terreno por mais de 10mts.
Todo e qualquer canto de toda fábrica estava chamuscado pela explosão.
O cheiro e o silêncio eram terríveis, inesquecíveis.
Reerguemos a fábrica e a pusemos em funcionamento 2 meses depois. O turno que deu partida foi exatamente o nosso, que havia estado por lá naquele horror. Foi difícil voltar a rotina normal.
Em meu ser e em meu coração eu só não sabia porque o Evaldo não saiu dali também e ficava bravo com ele por isso. Queria que não tivesse ido. Não valia o esforço por aquilo, por aquele emprego, por causa dos chefes.
Depois, para consolar-me, entendi que a coisa não foi pior e Deus assim quiz.
Para mim, 3 de abril é dia de relembrar dois heróis desde de 1980.
4 comentários:
FUI PADRINHO DE CASAMENTO DO EVALDO.ELE DEDICAVA-ME UMA FIDELIDADE CANINA....CONFIAVA MUITO NELE.DIVERSAS VEZES DEIXEI A FÁBRICA SOB SEU COMANDO E ÍA PARA A GAMDAIA...VOLTAVA POR VOLTA DAS SEIS HORAS DA MANHÃ E ESTAVA TUDO EM ÓRDEM..DELMAR ERA OUTRO FIEL AMIGO.BEIJOS,MANO VÉIO CAÇULA.
Eu era criança na época deste acidente, morava em nova cidade, eu e minha mãe fomos até o local,lá eu presenciei quando os bombeiros estavam recolhendo pedaços de corpos de funcionários que morreram, alguns prédios nas redondezas tiveram os vidros das janelas quebrados devido a vibração da explosão, foi uma trágedia na época...
Eu era criança na época deste acidente, morava em nova cidade, eu e minha mãe fomos até o local,lá eu presenciei quando os bombeiros estavam recolhendo pedaços de corpos de funcionários que morreram, alguns prédios nas redondezas tiveram os vidros das janelas quebrados devido a vibração da explosão, foi uma trágedia na época...
Eu era criança na época deste acidente, morava em nova cidade, eu e minha mãe fomos até o local,lá eu presenciei quando os bombeiros estavam recolhendo pedaços de corpos de funcionários que morreram, alguns prédios nas redondezas tiveram os vidros das janelas quebrados devido a vibração da explosão, foi uma trágedia na época...
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