São Paulo, Aeroporto de Congonhas, anos 90.
Eu precisava cumprir uma determinação de serviço em Alphaville e retornar ainda naquele dia para o Rio.
Em meus objetos havia porém um convite para participar de um evento ligado a minha área que ocorria naquela semana no Anhembi.
A minha preocupação era com meu equipamento que havia entrado em pane já há um bom tempo e não se conseguia chegar a um consenso para recuperar a boa performance.
Às 14h eu já havia me liberado do compromisso e, no táxi de volta pedi ao motorista para ir ao Anhembi.

Às 20h eu não conseguia que os meus amigos me liberassem para voltar ao Rio.
Às 22h, já ciente que não haveria mais vôo na Ponte, ouvi um dos amigos num orelhão:
"_ Benheê, vou ter que jantar com um cliente.... Sabe como é, vou chegar tarde de novo..."
Desligou e me disse:
"_ Sua vez agora."
E assim foi minha primeira vez em uma boate.
Cercado por todos os carinhas daquela firma que me oferecia aquele desfrute, eu não sabia o que fazer.
A primeira coisa que me deixa à vontade em um local é me sentir seguro.
Com tudo por conta e cercado de bons camaradas, eu não sabia para qual das meninas olhar. Eram 6 no palco, de hora em hora, fazendo um strip.
Um deles me falou: "_ É só escolher."
E depois de algum tempo: " _ E então carioca? Já escolheu a sua?
Eu disse que sim, mas não sabia que precisava combinar com ela. Juro.
Às 2h da manhã, paulistada toda cansada, querendo ir embora, me jogaram na parede: " _ Oh meu!!! Você não se resolveu ainda? "
Aí me explicaram como era para fazer e, enquanto me falavam, passava uma garota atraz de mim que parei, sem deixar de dar atenção a meu camarada. Ele me falava e eu repetia para ela.
Ele dizia: "_ Você tem que chegar e perguntar quanto ela quer..."
E eu repassava para ela que me respondia, o que eu voltava para o amigo.
Assim conheci a Debbie.
Morena, de cabelos encaracolados não muito longos e corpo bem torneado, a escolha foi aprovada pelo meu amigo Toninho, que era meu cicerone. Em meu bolso ele colocou toda a grana que era necessária e explicou como seria a coisa. Mas, dois comissários da VARIG que acompanhavam o nosso grupo seriam minha carona até ao Hotel.
No caminho, insistiam que eu deveria ir com eles ao apartamento deles, que era perto do Aeroporto, etc. E davam voltas e eu dizia educadamente que não, segurando firme na mão de Debbie que, mostrava-se calma, segura. Para ela seria mais um programa, nada demais, creio. Eu pensava em protegê-la, primeiramente e depois, a mim mesmo. Comissários de bordo não são franzinos, bêbados ainda por cima...
Depois de algumas voltas sem rumo e o carona apagar, o motorista cansou de me abordar e me deixou no Hotel.
Ao sairmos do carro as feições da menina mudaram para de alívio e ela, me pegando a mão, conduziu-me ao Hotel me dizendo para pedir um quarto simples, não aceitar o que eles "tentariam empurrar".
Então, já no quarto, iniciamos uma longa e boa conversa onde ela ficou sabendo um pouco sobre mim, sobre o que estava acontecendo, sobre minhas idéias. Expliquei-lhe que não se preocupasse com mais nada além de me fazer companhia até que pudesse sair e pegar a primeira Ponte Aérea.
Ela me disse que já tinha deixado o "trabalho" mesmo naquela noite e não tinha pressa.
Sem tirar a roupa, trocamos carinhos enquanto sabíamos um pouco de cada um.
Ela tinha um filhinho de 2 ou 4 anos, já não recordo. Me mostrou sua foto.
Falou do pai do menino e de sua mãe, que tinha boa condição de vida.
Convidou-me para ir até o litoral qualquer dia, passar um tempo na casa de sua mãe.
Em dado momento, a Debbie começou a remexer sua bolsa e eu pressenti algo novo para mim.
Ela me disse então: " _ Eu vou fazer uma coisa mas você vai ver que não é nada demais."
Mostrei-me apreensivo e ela me disse então: " _ Mas se você quiser eu não faço."
Eu disse que "tudo bem" e ela iniciou a preparação daquele pó.
Aproveitei para ir ao banheiro tirar minhas lentes contatos lhe dizendo que "não queria nem ver e seria como se nada soubesse".
Quando voltei ela estava terminando de guardar as coisinhas e me disse: "Pronto. Mudei alguma coisa?"
Carinhos e sedução se seguiram até que se consumou um sexo simples e gostoso.
Ao sairmos do quarto, tirei o dinheiro que me deram e ela disse não, que não queria.
Insisti dizendo-lhe que me deram para ela e só assim aceitou.
Depois, já fora do Hotel, entrou junto comigo no táxi e me levou até Congonhas.
Às 6h da manhã, no saguão do Aeroporto, chamava atenção a menina ao meu lado. Estava frio e ela se vestia normalmente, sem nada que pudesse ser chamativo.
Pela primeira vez então dormi num avião.
Naquele mesmo dia, ao fim da tarde, havia resolvido o problema de meu equipamento com as dicas que consegui com os camaradas no evento.
Por telefone, na primeira oportunidade, o Toninho me disse "a menina gostou de você, carioca".
Voltei a ver a Debbie e depois nos perdemos.
Em uma das vezes que fui a São Paulo, anos depois disso, sozinho eu meu quarto de hotel, lembrei da sua "premonição" de não chegar aos 21 anos. Ela já deveria ter uns 23 anos.
Chorei então por nada poder fazer a não ser rezar para que ela estivesse bem.
continua