É. A vida e a morte por assim saber.
As mesmas que andam juntas, que evitamos a qualquer custo uma delas mas sabemos que ela chegará, inevitavelmente, em algum instante, sem previsão, sem aviso.
Mesmo ao moribundo ela não deixa claro seu movimento de ceifar e acabar com tudo... Sofrimento, lembranças, dor, passagens da vida.
Sempre disse que morrer dormindo deveria ser ideal para qualquer um de nós.
Mas oro sempre antes de dormir esperando poder acordar no dia seguinte e seguir minha jornada em mais um dia.
Incoerente, em minha fé deveria agradecer por mais uma chance de poder deitar e dormir.
Quantos - e eu tenho um pavor imenso só de pensar - não o podem fazer livremente, mudar de travesseiro, de posição, virar e revirar a cama toda e, na preguiça da manhã, levantar-se.
Esses dias, estive olhando para os lados e pensando como seria se a morte chegasse naquele instante?
A minha ou a de quem estava do meu lado? Como seria? O que seria?
Numa linha tênue, ao olhar a falta, explicar os sentimentos, buscar novo rumo... Passado, presente e futuro.
E é fato. Não se pode fugir. Está escrito.
Nós não pensamos, não queremos pensar ou somos fracos para encarar a realidade do viver?
Diria fortes, então, para não querer pensar, seguir, viver?
Fato que me bateu assim a falta de pessoas que se foram mas ainda parecem que não me fizeram a marca por causa da vida... Até artistas, que as vezes me pego em confusão sem saber se ainda estão por aí.
Amigos que admiramos e que se foram sem que estivéssemos próximos de como quando convivemos, meu pai e sua ingenuidade brincando com a Enedir companheira última, tios e tias, primos, compadres e comadres, pessoas de bom coração... Foram-se tantos, meu Deus!!!
O trem da vida só nos permite olhar para a estação que fica para traz e vê-los através da janela. Muitas vezes sem um aceno sequer, só vamos dar conta ao ver seus assentos vazios.
Aos sessenta anos, - me dou conta disso também - tenho minha viagem bem mais curta, meu bilhete antigo que me permitiu vir até aqui, ver tantos chegarem, os que encontrei me deixarem e mesmo assim preciso seguir até uma parada que não saberei mas terei que desembarcar. O final da viagem deste Ser... E tanto vi, vivi, senti. Meus feitos, defeitos, prazeres, desventuras e sofrer.
Algo nos prende a vida, lutamos para não a deixarmos e, no final, sabemos que precisamos ir.
Muitas vezes é melhor.
Agradeçamos a Deus por tudo!!!
A linha tênue ainda segue paralela mas uma hora terão que se cruzarem.
Queria sonhar que nessa hora, nesse momento, nesse choque, explodisse em lembranças a linha da vida e só assim então a outra linha pudesse nos levar...