Ele andava junto com suas preocupações pelo espaço livre em uma praça de uma cidade.
No pensamento as coisas que precisava resolver, as atitudes e esperas da vida, o tempo.
Seu caminhar já não tinha a segurança e a firmeza de outros tempos. Sua presença na rua não era comum há muitos anos. Tudo e muita coisa contribuiu para chegar até aqui.
Quase sem que percebesse, uma pessoinha caminhava rápido em sua direção e, quando sua atenção despertou, essa criança chegou até suas pernas e institivamente levantou os braços no gesto característico de colo.
Sem saber bem o que fazer, encantado pela presença inesperada em seu caminho, ele foi tomado pela inocência e singeleza do momento. Ajoelhou-se e ganhou um abraço enquanto olhava em volta a procura da pessoa a quem pertencia o menino que o afastara de suas andanças pelo ar para vir ao mundo real, trazido por um anjo, sentindo-se na Terra... Nada. Ninguém, a primeira vista, se manifestara.
O pequeno não sabia falar ainda, mas olhava para ele como "o escolhido", um velho conhecido.
Já com o menino no colo, de pé, atônito, percebeu duas mulheres em sua direção e, só aí, seu coração tomou conta de seu corpo. Mãe e filha, olhavam para a cena num misto de surpresa e reprovação ou algo parecido. O menino já havia se aconchegado ao ombro dele. Ele ficou paralisado. Coração batendo rápido, incrédulo com o momento.
A mãe do menino se aproximou e sem uma palavra o tomou para seu colo, se afastando.
A mãe dela parou diante dele, ficou em silêncio por algum tempo olhando seus olhos e disse "Como está você?"... A resposta não saiu da garganta mas em lágrimas. Não saberia o que dizer aquela mulher depois de tantos anos, sem que conseguisse tirá-la do coração e, em meio a tantas coisas, tantas saudades, a sua visão paralisou o ser que só traduzia em lágrimas que escorriam por seu rosto o que era tudo.
Ele a viu afastar-se, juntar-se a filha e menino e sumir em seu destino.
Ali ficou, olhos fixos longe, talvez sem acreditar no que acabara de viver.
De tempo em tempo abaixava a cabeça, como se indaga-se a si próprio sobre a vida.
Tempo, vida... Passam rápido demais!