Estava assistindo a um jogo da série B do Brasileirão essa semana (como se eu fizesse alguma coisa diferente) e, num passeio das câmeras pelos torcedores, focalizaram dois senhores até bem parecidos na torcida do Sport que me chamaram atenção.
Como nos velhos e bons tempos, radinho no ouvido e assistindo no estádio a seu time jogar.
Com certeza, a geração de ferro, da qual vi muito em minha juventude fazer isso no Maracanã, foi a mesma que herdei bons costumes e valores. Meu pai mesmo era um desses que não deixava o radinho em casa quando ia ver seu Vasco jogar.
Eu era apegado a programas de esportivos no rádio até bem pouco tempo. Vi e ouvi, no convívio diário de minha casa as vozes de grandes nomes da nossa história. Washington Rodrigues, Gilson Ricardo, Doalcei Bueno de Camargo, Ruy Porto, João Saldanha, Kléber Leite, Luiz Mendes, Jorge Cury e tantos outros.
Eu não levei para o Maracanã um radinho mas sentia a falta de informação que a gente estava acostumado em qualquer jogo. Faltava alguma coisa e eram aqueles caras falando, descrevendo, narrando, informando que eu tinha em casa.
Esse era o Maraca de meu tempo. Arquibaldos e geraldinos lotavam mais de cem mil cabeças em qualquer clássico aí.
Era um tempo onde todos os presentes aplaudiam uma jogada de classe, como se num espetáculo em um palco de grama, um jogador virar uma bola de uma lateral a outra e encontrar o peito do colega de camisa que dominava e colocava na grama como se fosse algo simples de fazer. Aplausos e orgulho, indiferente de camisa ou rivalidade porque éramos o país do futebol arte.
Havia respeito apesar de torcidas diferentes, camisas diferentes.
Haviam Garrincha, Pelé e tantos outros...
Havia um fosso que separava os geraldinos do gramado. Esse era meu Maraca!
Eu tive o privilégio de pisar naquele palco do mundo do futebol. E joguei cinco vezes vestindo a camisa do Botafogo de Futebol e Regatas, num torneio fazendo a preliminar de jogos do Roberto Gomes Pedrosa, que deu origem ao brasileirão de hoje.
Bem verdade só vencemos um dos jogos e foi contra o Vasco, que, como o Botafogo de seu Néca (ex jogador Manoel Vitorino) era rígido no controle das documentações falsas, os famosos "gatos". Os outros clubes não disfarçavam nada e até mesmo "menino" que servia ao exército entrava em campo para vencer da gente. Eu só tinha doze anos, como a maioria de meus colegas do "dente-de-leite" que era a nossa categoria até quinze anos.
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Esse dia foi a despedida de Pelé e nós fizemos um corredor em volta do campo para sua volta olímpica |
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Próximo ao "seu Néca", meias arriadas, Luizinho Rangel |
O rádio sempre esteve presente em minha vida.
Meu avô materno, aos sábados, chegava de sua jornada de mascate e, depois de comer alguma coisa, no calor, deitava em uma esteira num pequeno espaço de quintal cimentado onde corria um vento. Junto dele seu rádio a pilhas e, logicamente, eu e meus primos.
Ele deitava e ligava seu rádio num programa que contava histórias que os ouvintes enviavam para a rádio Tupi, num programa chamado Incrível, Fantástico, Extraordinário que ia ao ar sempre aos sábados as 14 horas.
Eram histórias macabras, de fantasmas, terror que o programa fazia ir ao ar como uma radionovela.
Nós meninos ficávamos apavorados com as histórias e prestando atenção em silêncio naquelas narrativas que davam arrepios no meio da tarde calorenta e assustava qualquer barulho naquele instante.
Antes desse programa tinha a Patrulha da Cidade - que dava as notícias criminosas com bom humor - e depois, creio eu, programas de futebol.
Foi uma época gostosa...
Meu primeiro rádio foi como esse mas na cor branca.
Ali comecei a ouvir as Rádios Tamoio e Mundial com seus programas de músicas sucessos no mundo inteiro. Beatles, Rita Pavonne, Roberto e Erasmo, a Jovem Guarda.
Meu time quando jogava nas Rádios Globo, Tupi e Nacional.
Foi um companheiro de longa jornada. Até 2016 eu ainda mantive o hábito, ouvindo rádio durante o expediente de meu trabalho noturno.
Quando veio a demissão, em casa, os hábitos mudaram junto com a evolução que relegou as rádios em um plano inferior, subjugado a internet e seus recursos.
Eu gostaria de relembrar muitas coisas de que vivi ouvindo rádio em minha vida. São histórias incontáveis e personagens também que fizeram parte de mim durante anos. Há pouco tempo foi embora o Gilson Ricardo e seu coração bondoso, sua simplicidade e riso solto. Depois foi o Apolinho.
A gente sente como se fosse um parente próximo mesmo sem nunca ter chegado perto deles.
No tempo de meu Maraca, o Apolinho e Denis Meneses eram repórteres de campo na Globo. Assim como eles, na concorrente Tupi, Kléber Leite e Ronaldo Castro não deixavam a peteca cair.
Eram muito bons no que faziam!
Saudosismo demais.
Tantas histórias.
Minha vida.
Memórias vão longe...
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