E de repente dá-se conta de ser um homem com mais e sessenta anos... A gente vive não querendo acreditar, se esforçando porque na cabeça ainda mora alguém de quarenta ou cinquenta com suas vontades e desejos animados em sonhos.
Já passaram.
Damos conta de quem a gente sonhava e vemos que estão longe de nós até em lembranças e pensamentos.
Damos conta de nossos sonhos que vão se apagando junto com os desejos desgastados pela espera, talvez.
Damos conta que levantar da cama é uma dádiva a cada dia. Levantar e estar bem é uma graça alcançada que agradecemos aos céus... "Senhor, em sua bondade suprema, perdoe a esse pecador que Te agradece por tudo!"
Não é muito difícil quando a gente não tem vontade de seguir. Mas, para mim que sonhou tanto, que esperava um dia poder reviver algumas coisas é bem um choque saber que, quase com certeza, me despedir da vida é mais real que os sonhos que alimentam esperanças.
Tenho 63 anos, uma vida reclusa imposta por minha vontade, uma barriga que cresceu e, apesar de ainda ter forças, já faltam o equilíbrio e a proibição médica por 4 stent's no peito. Sem contar os diversos remédios que precisam ser usados diariamente, a tristeza que escondo de todos por não ser mais e não ter mais o que tinha em relação a vida.
Em minha rotina de solidão, acompanhada agora de prevenção a pandemia, me pego as vezes sem ter motivos para acordar e sinto medo de dormir. Adormecer se faz tristeza e medo... Acordar de novo? Será?
Há um tempo eu me deliciava em lembranças gostosas que me embalavam o sono e despertava o coração em esperanças... Hoje, ao me deparar comigo mesmo e com a realidade, me pego dizendo "ah deixa pra lá. Não mais". Acho que mato meus dissabores em sua raízes.
E então? Quantos anos me restam?
Galileu, em seu tempo e grande inteligência deveria saber calcular...
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