Ontem a noite, já bem instalado no ônibus indo para o trabalho, conversava com o motorista habitual de bem com o horário.
Fomos surpreendidos pela parada geral do trânsito na altura da Ilha de Mocanguê e dava para ver que a coisa era além ou no vão central da Ponte Rio-Niterói e que o fluxo, de maior intensidade no sentido Niterói aquela hora estava completamente nulo. Nada passava a não ser alguns carros da concessionária na contra-mão.
De logo vem a curiosidade e a esperança de poder sair dali bem rápido.
Pelo rádio, depois de uns 15 minutos, ouve-se a explicação de ser ação da PRF num incidente que ocorria na altura do vão central que paralisou os dois sentidos de tráfego.
Com a violência que assola nossas cidades nos últimos meses (pasmem: São Gonçalo e Niterói chegaram ao índice de aumento de roubo de veículos de 97% nos 45 dias passados) o assassinato de um PM num posto de combustíveis noite anterior e outras "cositas mas", pensamos se tratar de alguma intervenção, apreensão ou busca da polícia que poderia estar ocorrendo.
Preocupado, eu já havia ligado para o filho número dois, que aquela hora faz o sentido contrário ao meu. Com ele, Graças a Deus, estava tudo em ordem e aproveitei para informar a "barra" que enfrentaria para chegar em casa...
No ônibus, como eu, haviam mais cinco passageiros que iam trabalhar e ficavam apreensivos pelo horário e falta de mais informações. Mas eles não se manifestavam.
Foi quando pela Rádio Globo, ficamos sabendo que se tratava de um sujeito que tentava suicídio querendo jogar-se da parte mais alta da ponte e que os policiais acabaram por dominar.
Então, um dos companheiros de viagem revoltado, soltou essa: " PQP cara, sua mulher te deu um par de chifres não foi de asas, não, seu FDP..."
O trânsito foi liberado em nosso sentido e ainda deu para ver três homens em cima do cara dominado no asfalto.
A situação era tensa, difícil se formos pensar no drama do rapaz que o possa ter levado aquele desespero mas, pensando bem, se quisesse mesmo acabar a vida alí, ele teria se jogado imediatamente e não "dar show" que nem notícia virou. Lamentável...
O mesmo cara que me fez dar boas risadas com sua tirada das asas e dos chifres completou "que no prédio onde trabalha um cara se enforcou usando uma corda amarrada no ventilador de teto, sem alarme algum"...
Muita gente ficou atrasada, revoltada, indignada, cansada. Perderam-se compromissos, horários, etc.
Um drama, uma rotina, muita gente, um homem, um desespero e a comédia que o brasileiro toma para si como motivo para ir em frente.
Duro e necessário... Eu pensava ainda no quarteirão que teria que atravessar por uma rua escura, deserta, cheia de aramadilhas e frequentada por alguns crakeiros dia e noite.
Lembrava que antes, num dos acessos a Ponte, adentrou um "neguinho", boné enfiado quase sobre os olhos, cordão grosso, "bem aparentado" mas que, DOU GRAÇAS OUTRA VEZ, desistiu e desceu tão logo entrou, alegando ter esquecido a carteira. "Abre aí que vou ter que voltar correndo", disse ele. Mas saiu andando bem natural, no seu passo malandreado e com feição de quem ficara frustrado.
No momento que ele entrou no coletivo, o motorista falava ao telefone celular e disse, depois do ocorrido quando estávamos na Ponte, que brincava com um colega mandando ele pegar algum pó na boca perto da casa dele ou algo assim... Vai que essas palavras foram a salvação.
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