"Lenize!!! Onde você está?"
"Leni!!!"
Eu começava a estranhar não encontrá-la por perto das irmãs e em seus locais mais comuns de estar dentro de casa.
"Leni!!!!" - Insistia sem me preocupar.
Então, ao passar perto da janela na sala que dá para o jardim, encontrei.
Quieta e só, tinha em suas mãos uma flor. Isto bastou-me para entender o momento daquela criança que, apesar dos seus poucos aninhos, estava sempre ativa a cuidar para nada que faltasse as duas menores.
Estávamos ainda em fase de desenvolver a parte afetiva que nos trouxesse a confiança no amor.
Com a Lívia e a Laize era mais fácil.
Lenize, por ser a maior, trazia a marca por ser escolhida por sua mãe antes de deixar este mundo, em cuidar das irmãs. Era sua promessa, sua causa e obssessão em seus poucos mais de 10 anos de vida.
Saí então bem devagar e caminhei na direção que se encontrava, silenciosamente.
Sentei-me bem próximo à pequena em silêncio e passei a fazer parte do cenário, observando as roseiras, como ela parecia fazer.
Enquanto o tempo passava e a menina não esboçava reação a minha presença, tentava encontrar uma maneira para ser companhia.
Alguns minutos se passaram e ainda se podia ver algumas lágrimas naqueles olhinhos e a rosa que segurava com carinho.
Lembrei de momentos daqueles meses anteriores.
De como me apaixonei por aquelas criaturinhas lindas, alvas e bem cuidadas, num cantinho separado no abrigo para menores que fui visitar.
Sempre juntinhas, Lenize a proteger as duas menores como a pintinhos que saíram do ovo, chamaram a minha atenção logo de cara. Meu interesse e a proteção da menina se chocaram em tentar uma aproximação, apesar dos olhinhos pidões das menores e dos sorrisos acanhados.
Lívia e Laize queriam o mesmo que eu queria por seus 5 e 3 aninhos inocentes.
Lenize precisava cuidar que não falhasse com a determinação imposta na dureza da vida, em tantas desgraças que era obrigada a tentar passar e ainda a assustava.
Sua mãe ficou viúva bem muito antes que lhe previa pensar. Ela havia migrado do interior com suas duas meninas e mais a Laize que ainda haveria de nascer. Seu marido, trabalhador, encontrou serviço e foi traído por este que lhe ceifou o direito de cuidar da família em trágico acidente.
A Laize nasceu e a sua mãe pouco tempo depois adoeceu, lutando por tudo que podia, agora sem o companheiro, longe de sua terra e com as meninas a pensar no futuro.
Uma brisa soprou e eu falei sem me mover: " É a mamãe?"
A resposta foi um pequeno soluço e um aperto na flor.
Então, lembrei-me de rezar baixinho e logo ouvi aquela vozinha a acompanhar a Ave Maria...
Abracei aquela criaturinha tão meiga e tão forte de sentimentos, deixei que se acomodasse em meu abraço e ficamos assim por alguns instantes. Nada mais era preciso ser dito...
Quando finalmente resolveu levantar, ela quiz limpar o rostinho com vergonha e eu intercedi: "Meu anjo, toda vez que chorar assim não tenhas vergonha. São lágrimas do coração que lavam a nossa alma e nos confortam muitas faltas."
A Lenize continua cuidando de suas irmãs mas confia mais em mim agora.
As vezes acho até que arranjou alguém maior que ela para cuidar também.
Um comentário:
Tão lindo que dói... me emocionou...
Beijo grande, querido!
Postar um comentário