Essa semana me acendeu a memória o meu pai.
Coincidência ou não, aquele APP que rememora suas datas em fotografias mostrou-me uma...
Ele gostava muito dessa foto. Dizia que era a sua foto preferida.
Mas, não por isso, as lembranças chegaram quando resolvi abrir uma latinha de embalagem, antiga, porém de uma marca atual, a qual não mais tenho certeza se foi ele que me deu.
Eu guardei por muito tempo ali algumas coisas que me eram caras. Documentos, dinheiro, cartões.
Tudo que estava enlatado estaria seguro, para recorrer ou recordar.
Com o tempo deixei de ter ali as coisas importantes. Mas ela ficou guardada, resistente.
Então, eu abri essa semana e fui verificar o que sobrou dentro de tão importante latinha companheira de longos anos e várias mudanças de casa, de lugar.
Aqueles cartões, escritos com a letra inconfundível de meu pai, traziam senhas de acesso a suas contas bancárias. Ele fazia questão de me informar sempre por qualquer mudança por fazer parte de seu plano e ser eu o escolhido para cumprir parte de suas vontades, caso, como ele mesmo dizia, um dia irá acontecer.
Na sua sabedoria, aliada a bondade e ingenuidade, simples assim, ele esquecera que os homens são podres e gananciosos. Ele confiava em uma pessoa a qual estava subjugada a seu filho e este, malicioso, não aparecia até que o fato se consumou. Esse senhor, filho da mulher que meu pai vivia e fazia questão em dividir o que deixava com os três filhos, mudou toda uma história de honestidade e sonhos de meu pai.
Ele conseguiu sujar toda uma vida, planos de bondade e esperança.
Aquele dólar, foi ele que me deu quando ainda era garoto e disse para não tirar da carteira. Era de sorte.
Era tão precioso que guardei e ainda o tenho comigo.
Meu pai foi embora dessa vida muito zangado comigo. Parte pela sandice causada pela doença, parte porque o magoei quando consegui tirar dele o controle de suas contas bancárias, por faltar remédios, comida e não pagamento de contas mensais.
Ele não aceitou quando alguém tirou dele o seu dinheiro mas, foi para o seu próprio bem, o que ele não entendia assim. Doença má!
Em meu histórico de vida, ao final, em suas partidas, estavam zangados comigo, meu pai e minha mãe.
Carrego em meu coração essa frustração, por assim dizer. Eu queria fazer mas era preciso.
De meu pai o controle de suas coisas, seu dinheiro e, cumprindo sua vontade, entregando tudo a quem tomou o direito de ficar com tudo. Aquela em que meu pai confiou era um nada e por isso nem eu nem ele próprio esperava.
A minha mãe foi por ter brigado para que ela saísse da entrega que se colocou em não aceitar, por sua vaidade, estar com as sequelas de um AVC... Muito e grande foi o sofrimento de uma mulher que tirava de seus filhos para ajudar a outras pessoas. Comia feijão com arroz para que um filho pudesse comer dois bifes.
Perdoem esse filho, pai e mãe!