Tenho estado em uma faixa tênue de vida, entre a saudade e a vontade de viver.
Lembranças de dias que já não acontecem há muito tempo.
Incertezas, valores e as marcas que trago no peito se traduzem no espelho.
O tempo é também implacável companheiro.
A solidão em meus dias e noites é a maneira que encontro para fugir. Ficar comigo mesmo, pensar, remeter a erros cometidos, como se avaliasse a razão e a culpa.
A solidão, as lembranças e o espelho se reunem e me trazem a saudade.
Nas minhas noites de trabalho, concentrado no que preciso fazer, me pego lembrando momentos desagradáveis como se tivesse acontecido ontem ou há uma semana.
O trabalho flui automático, os fatos me veem mais fortes à lembrança e então brigo comigo mesmo: "Porque pensa nisso? Já foi, cara."
Não há uma razão. Não encontro os personagens e deles não sei notícias mas, aqueles momentos guardados na memória me chegam fortes, de repente e inusitadamente.
Não são bons momentos.
Não foram bons momentos.
Escrevo sobre isso agora nem sei bem porque.
Talvez queira analisar a semana que passou, os dias, as noites, as esperanças... Viver de que? É preciso sonhar.
Certo é que meu mundo ficou pequenino, restrito mais a solidão.
Eu gosto de ficar só. Acredito que no princípio era como se me punisse por tanta vergonha e perdas. Tristeza e saudade em minhas lembranças.
Acostumei a isso e a vida seguiu.
Hoje, passo meus dias tentando dormir enquanto todos trabalham.
Tenho meu companheiro que registra tudo que escrevo aqui, que me mostra o mundo se eu quiser, que traz notícias daqueles poucos que ainda aparecem.
Quando todos dormem eu trabalho. Tenho como companheiros um cãozinho que fica do lado de fora a espera de um pouco de carinho e do pão com leite que levo para ele toda noite e um rádio.
As mazelas da vida cotidiana eu presencio pela TV, no caminho que faço de ida e volta e na pele, quando a tal crise afeta e ameaça o emprego que custei tanto a conseguir.
Onde haverá outra firma que não se importe com a idade, cor, beleza ou moradia de quem emprega?
Acho que é rara e talvez a única neste nosso País.
Mas... Eu escrevia sobre o que mesmo?